segunda-feira, 31 de maio de 2010

ZEL ILUSTRA REVISTA - GAZETA DE MARICÁ

Colaborei com a edição especial da Revista da Gazeta de Maricá com ilustração que acompanha matéria sobre a vida e o trabalho do Deputado Paulo Melo. A ilustração foi fundamentada na matéria da revista tendo como base a luta que teve para alcançar a atual posição em sua vida




De engraxate a Alerj, uma lição de vida


Quem conhece hoje o deputado Paulo Melo, um homem bem informado, articulado, consciente de seus deveres políticos e do seu compromisso com o eleitor, sem qualquer traço de demagogia, ou seja, embasado nos preceitos legais que um mandato político exige, nem sonha com a difícil caminhada e com as adversidades que pontuaram o início dessa trajetória. A família do menino Paulo Melo vivia em uma fazenda cujas terras se estendiam por boa parte do município de Saquarema até Bacaxá, onde seu pai era meeiro e plantava milho, mandioca e feijão.

De olho no crescimento e já vislumbrando novos tempos, o proprietário da fazenda decidiu lotear as terras e vender. Com isso, a família teve que deixar o local e a sua fonte de sustento. Primeiro, foi morar nas ruas, depois, contou com a ajuda de um prefeito que cedeu a sala de um colégio para que pudessem ficar abrigados. Mas Paulo Melo sempre acalentou o sonho de poder mudar de vida. Impulsionado por esse desejo, o menino saiu de casa antes mesmo de completar os 12 anos de idade e foi para o Rio de Janeiro. “Morei algum tempo nas ruas, fui albergado da Fundação Leão XIII, exatamente Albergue João XXIII, na Praça da Harmonia. Dormi em vários lugares, fiz todo tipo de serviço que se possa imaginar, trabalhava num escritório como auxiliar de serviços gerais e no final de semana eu fingia que ia embora, ficava trancado sábado e domingo dentro do escritório porque eu não tinha onde morar”, conta o deputado.

Até os 16 anos de idade, Paulo dormia nas ruas, foi levado várias vezes pelo Juizado de menores que, na época, imprimia uma ação contundente aos menores de rua, já que não havia o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Era o Código de Menores que dava todo poder ao juiz, inclusive podendo tirar o poder pátrio a hora que quisesse. Ele determinava punições. Existia uma coisa estigmatizante: quando menor era detido pelo Juizado logo tinha sua cabeça raspada. Mas eles não raspavam a cabeça dos garotos de classe média, da Zona Sul, só daqueles que eram desprovidos da sorte”, lembra Paulo.

A vida seguia com ele trabalhando como engraxate, vendedor, limpador de prédios, vendedor de picolé na Praia de Copacabana até que conseguiu um emprego de guariba em uma agência de automóveis em Botafogo. Lá, ele conheceu uma mulher que mudaria completamente a sua vida. “Ela me incentivou a voltar a estudar, a terminar minha alfabetização, eu fui fazer Mobral aos 17 anos de idade, supletivo do primeiro estágio do Primeiro Grau na escola Tiradentes. Depois eu fui fazer o supletivo do segundo estágio do Primeiro Grau no Colégio Acadêmico, porque fiz amizade com o professor Paschoal Rapuano e ganhei uma bolsa. Quando eu estava no segundo estágio, minha mulher ficou grávida, teve um filho e eu tive que escolher o que fazer na vida. Então eu trabalhava de manhã, à tarde e à noite. Além da agência de automóveis, trabalhava à noite em construções. Ia pra casa e voltava de madrugada. Isso fez com que um mestre de obras transformasse o galinheiro da sua casa, em Marechal Hermes, em um quarto para que nós pudéssemos ir morar lá”, recorda o deputado.

Paulo conta que as oportunidades foram pintando, mas que ele nunca havia vislumbrado uma carreira política em sua vida. O destino lhe reservara mais uma página amarga em sua vida. “Em 1981, essa mulher que me tirou das ruas faleceu numa explosão de aquecedor. Ela estava grávida de oito meses, morreram os dois, ela e o filho que estava na barriga. Fiquei meio perdido”, lembra.

A partir daí, Paulo Melo começou a participar de alguns movimentos. “Em 1984, eu tinha um grande movimento no Rio de Janeiro, que era o Movimento SOS Criança, que trabalhava com menores de rua. Eu tinha um grupo de pessoas que trabalhavam neste movimento comigo. Com isso, eu comecei a conhecer pessoas políticas”, explica o deputado.

O primeiro passo estava dado e Paulo Melo começou então a ser invadido pelo desejo de fazer parte de um processo político. “Em 86 eu decidi a tentar algo que eu nem sabia muito bem o que era. Foi uma coisa muito atípica que aconteceu e eu me enveredei pelo campo político e me candidatei a deputado pelo PTR (Partido Trabalhista Renovador), não obtive êxito. O gozado é que, naquela época, eu seria deputado porque o PMDB tinha tido vários candidatos que não conseguiram legenda e como tinha um monte de mutreta, conseguiram que essas pessoas entrassem no PTR como já inscritos e eles foram candidatos. Deles, foram eleitos dois candidatos Rubens Bomtempo, pai do Rubinho, de Petrópolis e Oton Sampaio, de São Gonçalo. Foram seis candidatos do PMDB que vieram para o PTR. Se essas pessoas não viessem, com o número de votos que eles trouxeram, mesmo que eles não tivessem entrado, o PTR faria um deputado e eu fui o primeiro do PTR. Então eu seria deputado”, afirma.

O que na época pareceu uma derrota acabou se transformando em vitória devido à experiência adquirida por Paulo Melo. “Graças a Deus não fui eleito porque, sem experiência, num governo extremamente conturbado como o de 86, quando Moreira foi governador, eu teria sucumbido como toda a sua bancada. Foram raras as exceções que se reelegeram. São raros os deputados que voltaram. Então, se tivesse entrado, minha vida política teria terminado ali. Em 88 eu me elegi vereador e em 90 fui eleito deputado. Em 94 eu tive a oportunidade de conhecer o Marcelo Alencar, uma pessoa de extrema importância na minha vida política e no meu aperfeiçoamento humano. Eu fui eleito vereador aos 31 anos de idade e deputado aos 33 anos de idade. Estou com 53, são 20 anos como deputado, dois como vereador, numa trajetória clara e transparente”, conclui Paulo Melo.